disforme

disforme

i.
estômago do avesso deturpado impossível gotejar vil errático
rói com burburinho em óleo murmúrio volátil de acrílico barato
de joelho junto ao peito um ruído branco aleatório que me abrange por completo
que me fode por dentro
serra metálica na veia voraz forma e crisma nesse uivo de geisha
geme proto-puta de boca em equilíbrio dinâmico no precipício que edifiquei
em órbita elíptica meu almoço à rasca chupa-me garganta fresca dor de platina
iço a mão nua aracnídeo aristocrata e moldo-me como barro arcaico
faço de mim o que quero
vórtice néon sinalético cromatismo
incógnita além de arquétipo cara perdida aquém expressão
choque frontal cinza em vibração argamassa promíscua
carne horizontal submisso arquitecto temente em ritual vício pornográfico
e eterno observador
na cama ansiosa esfomeada anti-cumpro-me ctónico
em obsceno lençol meu casulo
céu púrpura berrante fatídico e imenso
que se no mundo projectado é só eu
claustrofóbico sobreposto
leão de bronze em vénia perpétua
lábio rasgado estrangeiro
sorriso em construção
áspera agonia e palácio oásis no meu centro
devolve-me a inocência que lambes sólido inferno
com língua e língua e mais língua em breve suicídio colectivo
que por entre mar morto de dente me arrastam
por entre saliva em esporra
por entre gargalhada apoteótica
por entre amor desdobrado pleno que existe em vértice nu de miasma grotesco
vem doce fruto alimento misantrópico
tece em mim uma rede matricial
um filme americano mascarado de água podre
que me trinque o cérebro precioso
que me ocupe o sonho
e que me ocupe o frágil
que me embebede
e que me convence

quero ir pra guerra ser desertor
quero cancro benigno que seja tópico de conversa
quero ser estóico infiel depravado e em morte celular
quero sofrimento pop misericordioso e longe de banal
quero bater punheta no meu funeral
e quero jantar-me

ii.
mente despida sem charme ao lume intenso acre
o luar amarga-me com golpe cirúrgico órgão solto frouxo e se penso demais
modifica-se-me a testa sobrolho infectado ruga prematura
de luxúria em arpão sou deus dum beco sem saída
sou revolução identitária libertino púdico por vocação
embrulho-me sobre mim imutável
sou som disforme cão alado
solidão sob escrutínio
merecido auto de fé
perfuro pele e loucura latente
cuspo no meu sacrifício por mais belo que seja
e ao carbonizar com pívia o momento mais solene
rompo delírio epiléptico após desvendar a inutilidade de tudo
e se ergui um corpo em glória
caiu vulgar prontamente
e desespero
dormente
com uma alma refém
que se envergonha de mim
e fugiria
se pudesse

iii.
deixem-me Só.
só dormir.
e subsistir no Sono.
do Artificial.
e do Sintético.
Estagnar.
e eventualmente.
Perder.

desliguem o giroscópio
não quero saber a direcção
em que o destino me puxa

Nils Sógott

Nils Sógott

Ululei em protesto. A quê, não sei.